Movimento negro pediu, e arqueólogos não avançarão sobre área no entorno do traçado do VLT, considerada sagrada
A história do antigo cemitério dos pretos novos do Largo de Santa Rita, localizado abaixo do traçado da Linha 3 do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), vai permanecer enterrada. Após uma série de polêmicas, o Iphan e a concessionária do VLT cederam a apelos do movimento negro e modificaram o projeto de pesquisa na região: o sítio arqueológico não será mais escavado, para evitar que ossadas sejam remexidas e removidas.
O trabalho será limitado à pesquisa e à delimitação do cemitério. Segundo a arqueóloga Maria Dulce Gaspar, coordenadora do trabalho, como já haviam sido feitas prospecções anteriores, que detectaram fragmentos de ossos, as equipes terão condições de traçar a área do antigo cemitério. Uma marcação será feita no piso, identificando o sítio arqueológico. Mas as análises laboratoriais de possíveis ossadas não serão mais realizadas.
O impasse, no entanto, não prejudica o andamento das obras da nova linha do VLT, que deve iniciar operação no fim do ano. Como O GLOBO noticiou, a linha, que sairá da Central do Brasil e atravessará a Avenida Marechal Floriano em direção à Avenida Rio Branco, passará por cima desse sítio arqueológico do século XVIII, onde existiu um cemitério, em frente à igreja de Santa Rita. A descoberta chegou a fazer as intervenções pararem por cerca de cinco meses até que fossem liberadas pelos órgãos de proteção ao patrimônio.
De acordo com historiadores, entre 1722 e 1769, o cemitério funcionou ali, até que o mercado de escravos foi transferido da área urbanizada da cidade para a região do Valongo. Aquele teria sido o primeiro local do Rio de sepultamento de pretos novos (africanos mortos na chegada ou durante a viagem de navio até o Rio), antes mesmo da existência do cemitério da Rua Pedro Ernesto, na Gamboa, que funcionou entre 1779 e 1830 e foi descoberto em 1996.
Depois da divulgação do sítio, lideranças do movimento negro reclamaram de falta de transparência e foi criado um grupo de trabalho, batizado de Comissão Pequena África, da qual participam 16 ONGs e entidades, como Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine) e o Movimento Negro Unificado.
—Já conhecemos a camada arqueológica que caracteriza o cemitério e vamos trabalhar de fora para dentro. Quando nos aproximarmos desta camada ou da presença de fragmentos de ossos, vamos interromper a escavação e considerar como espaço do cemitério. Não vou expor nenhum osso — diz Madu Gaspar.
NOVAS ESCAVAÇÕES
Para Luiz Eduardo Negrogun, presidente do Cedine, o movimento negro considera que remexer o solo sagrado seria o mesmo que reviver o sofrimento de seus antepassados:
— Para que desenterrá-los? Somos contra. Não há necessidade de comprovar com pesquisa que ali havia um cemitério.
Num outro trecho da obra, as descobertas causaram menos polêmica. Arqueólogos encontraram estruturas da antiga Igreja de São Joaquim, erguida em 1758 e demolida em 1903, durante a construção da Rua Marechal Floriano pelo prefeito Pereira Passos. Na área onde existiram a nave e o altar-mor, foram achadas 15 ossadas. Os arqueólogos não descartam que outros ossos sejam encontrados nos próximos dias, quando outro trecho da igreja começa a ser escavado.
Paulo Vidal, arquiteto do Iphan, explica que a história da igreja, de estilo barroco, ainda precisa ser pesquisada, mas ela está ligada às origens do Colégio Pedro II.
— Além da igreja, existia ao lado dela o seminário de São Joaquim, que se transformou no Colégio Pedro II em 1837. Todas as fundações da igreja estão muito bem preservadas — comenta.
Fonte: O Globo
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