“Vende-se um lote de lindos moleques de 10 a 20 annos, pretas moças e officiaes de ofícios, vindos do norte no último vapor, juntos ou separados, são todos sadios e sem defeito: na rua dos Ourives, 221”. O anúncio, publicado em 10 de janeiro de 1863, no Jornal do Commercio, é de uma casa de venda de escravos que funcionou no século XIX no Centro do Rio. E que pode ter sido descoberta agora durante as escavações que preparam terreno para as obras de implantação do último trecho do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT).
Arqueólogos contratados pelo Consórcio VLT para realizar sondagens na região da Avenida Marechal Floriano acreditam ter encontrado na atual Rua Miguel Couto não só os alicerces desta antiga loja, mas também um conjunto de poços e uma bola de ferro, semelhante àquelas colocadas nas pernas de escravos para evitar fugas. Segundo Maria Dulce Gaspar, coordenadora do projeto de escavação, a descoberta é uma prova material da existência de um mercado de compra e venda de escravos no local, anterior à instalação do Cais do Valongo, região onde os africanos também eram comercializados.
– Encontramos os alicerces, os poços e a bola e fizemos, em seguida, uma pesquisa histórica para complementar o trabalho. Descobrimos anúncios de jornal que forneciam o endereço Rua dos Ourives 221 como local de venda e compra de escravos. Fizemos uma sobreposição de mapas antigos com atuais para nos certificarmos de que o ponto que escavamos na Rua Miguel Couto era o mesmo local. Não temos dúvida de que os alicerces e o poço eram da loja de venda de escravos- diz Maria Dulce Gaspar.
Uma outra descoberta no trecho da Rua Marechal Floriano por onde passará o VLT indicou a possível existência de um cemitério de pretos novos junto ao Largo de Santa Rita. Por conta disso, as obras do “bonde moderno” na região ficaram paradas cinco meses, aguardando liberação dos órgãos de proteção ao patrimônio. Desta vez, segundo o Iphan, não será necessário interromper os trabalhos. Técnicos do instituto permitiram que os alicerces da antiga loja de venda de escravos fossem encobertos. A bola de ferro, que pesa cerca de 15 quilos, foi enviada para um laboratório.
Segundo o Iphan, as novas descobertas não vão interferir na obra do VLT, já que foram feitas adaptações no projeto que permitirão a preservação dos alicerces e dos poços debaixo da via.
– O poço e o parte dos alicerces serão protegidos com bidim (uma espécie de manta) e areia, antes de que seja colocado uma cobertura por cima. Como o projeto foi elevado em cerca de 40 cm do solo, não vai interferir no sítio. O que será feito é um registro, com um ficha do sítio arqueológico, onde teremos a localização dele – explica Christina Leal, arqueóloga do Iphan.
OUTROS SÍTIOS
Outros sítios também foram achados no trecho, com cerca de 1 quilômetro de extensão, da nova linha do VLT (Central-Santos Dumont), que vai percorrer toda a Rua Marechal Floriano. O mais importante é o do Largo de Santa Rita. Os outros dois, da Igreja São Joaquim (derrubada nas reformas de Pereira Passos, no início do século XX) e Caminho Largo (antiga Rua Larga de São Joaquim), poderão trazer informações sobre a história de ocupação da Avenida Marechal Floriano. As escavações, que devem durar mais dois meses, se estendem da Avenida Rio Branco até o prédio do Itamaraty, na Rua Marechal Floriano.
Fonte: O Globo
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