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Cobra, jacaré, elefante. Ou, melhor, capivara

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Tá uma invasão danada de animais silvestres por aí. Morcegos, micos, macacos- -prego, capivaras, cobras e até jacarés. Segundo Mario Moscatelli, biólogo, mestre em ecologia, especialista em gestão, recuperação de ecossistemas costeiros e que coordena projetos de recuperação e gestão de manguezais, não é bem assim…

O aparecimento de diversos animais em condomínios e casas é por causa “do crescimento da ocupação urbana ordenada e desordenada, que gera a supressão de ambientes naturais que são a casa da fauna não humana. Em resumo, estamos invadindo a casa do que sobrou da fauna na baixada, expulsando a fauna de seus ambientes naturais”, explica.

O desequilíbrio ambiental a que estamos nos referindo, segundo Moscatelli, foi causado pela espécie homo sapiens. “E todas as espécies de animais que exigirem do ambiente algum tipo de qualidade estão ameaçadas. E essa qualidade já é praticamente inexistente nas áreas urbanizadas. Nessa situação acabam sobrando apenas aquelas mais resistentes, como jacarés, gambás, capivaras, garças”, detalha.

A zona oeste e suas lagoas

Segundo o biólogo, as lagoas da zona oeste “são imensas latrinas e latas de lixo, recebedoras de milhares de metros cúbicos de esgoto sem tratamento, sedimentos e resíduos dos mais variados e imagináveis (lixo doméstico, lixo hospitalar, móveis, linha branca – geladeira e máquina de lavar, pneus etc.). E o pior: não há nenhum projeto de despoluição em andamento, as lagoas agonizam e praticamente ninguém faz nada”, conta.

Sobre o que pode ser feito nessa região para minimizar o impacto na vida dos animais, Moscatelli é enfático: “As pessoas devem respeitar as leis ambientais que protegem a fauna, a flora, os ecossistemas, mas essas leis simplesmente não são cumpridas e tampouco efetivamente fiscalizadas, até porque são as próprias ações e a omissão do poder público que patrocinam historicamente a degradação ambiental na região. Não há solução diante da omissão das autoridades e da sociedade. Vamos perdendo a biodiversidade até restarem apenas baratas, urubus, ratos, mosquitos e lacraias, animais que geralmente acompanham a espécie humana”, avisa.

Como agir quando um animal silvestre bate à sua porta?

Na zona sul também há a “invasão” de animais em residências. Micos, macacos -prego e morcegos são os mais comuns. Para Moscatelli, a “proximidade das edificações com os ambientes naturais, a adaptação de determinadas espécies à presença humana e a mania das pessoas de alimentarem a fauna silvestre, comportamento completamente errado, são responsáveis por isso”

Mas como agir quando se deparar com um animal silvestre? O biólogo recomenda chamar a guarda ambiental ou o Corpo de Bombeiros, além de adotar as recomendações a seguir:

1. evitar comprar imóveis em áreas consideradas unidades de conservação e/ou protegidas por algum dispositivo legal ambiental, tal como faixas marginais de proteção de lagoas, rios, manguezais e brejos;

2. não desmatar e não alimentar a fauna silvestre;

3. denunciar ocupações desordenadas aos órgãos de fiscalização e rezar que aconteça algo que reprima essas ocupações.

Com a palavra, Mario Moscatelli

“Ao continuarmos patrocinando, por ação e omissão, a sexta extinção em massa localmente e globalmente, não resta dúvida que a resposta da natureza será avassaladora, muito mais intensa do que já tem sido observado.

Isso não é uma questão filosófica, é apenas uma conclusão técnica, científica, que estamos sabotando intencionalmente os mecanismos de equilíbrio/homeostase locais e globais, que, em última análise, foram os responsáveis por aquilo que denominamos civilização.

A natureza não se protege, apenas se vinga, e nessa guerra que estamos travando burramente com o planeta já sei quem vai ser o vencedor.”

Associação Mundo Novo recebe visitantes silvestres eventualmente

A gerente da Associação Mundo Novo, Elaine Lira, nos conta que já recebeu alguns visitantes silvestres por lá. O condomínio, que tem sete prédios e fica na zona oeste da cidade, já contratou até um biólogo para saber como agir corretamente nessas ocasiões. Especialmente por conta dos jacarés. “Chamamos um biólogo do Instituto Jacaré, em novembro 2018, e ele fez uma análise, à noite, para ver o comportamento dos animais, descobrir a rota deles, por que eles estavam muito próximo dos prédios. Mais comum seria perto das lagoas, mas eles estão aparecendo até na Avenida das Américas!”, ressalta.

A conclusão do biólogo é que a área dos jacarés, que são as lagoas próximas, pode estar saturada com uma população numerosa. “Com a questão da preservação, eles se proliferaram muito. As fêmeas procuram locais para fazer ninhos e vão se espalhando. Mas se não mexer com eles, não representam grande perigo. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, não há registro de ataque a pessoas, entretanto, não é recomendável que crianças circulem nessas áreas, pois os animais podem confundi-las com capivaras”, avisa Elaine.

A gerente lembra que em três meses seguidos apareceram três jacarés (setembro/ outubro/novembro). Quando isso acontece, eles chamam o Corpo de Bombeiros, que os levam para o Parque Chico Mendes, onde há uma população grande da espécie.

Os moradores do condomínio costumam encarar a situação muito bem, até porque, como a gerente conta, eles é que estão instalados numa área de preservação. “Procuramos educar os moradores, lembrando que estamos numa área de preservação ambiental. Temos placas que alertam para a possibilidade de encontrar cobras, jacarés, lagartos… Micos são normais por aqui, cobra sempre teve e capivara aparece eventualmente. Também orientamos os síndicos de cada prédio a não colocarem veneno para ratos, porque também pode matar animais silvestres, como gambás. A Secretaria de Meio Ambiente nos orienta, para termos essa consciência ambiental – afinal, os animais estão no lugar deles”, explica Elaine, que considera um privilégio ver essas espécies numa metrópole como o Rio de Janeiro. “Na realidade, temos que aprender a lidar com os animais, assim, eles ficam felizes na área deles e nós também”, considera.

A Associação Mundo Novo dispõe de uma equipe interna especializada que limpa as trilhas e se, porventura, achar alguma cobra, eles a retiram e levam para outro local, longe da trilha. “Sabem identificar pegadas de animais e ajudam nos cuidados de preservação. Nós consideramos um privilégio morar numa aérea que tem prevenção ambiental. Possuímos um Termo de Cooperação com a Secretaria de Meio Ambiente, ou seja, adotamos a área com o compromisso de zelar por ela. Mantemos uma empresa credenciada à Fundação Parques e Jardins para cuidar das espécies típicas da Restinga de Marapendi. Fazemos as podas de acordo com a orientação da Secretaria de Meio Ambiente. Esse trecho de que cuidamos (143 mil metros quadrados) do Parque Municipal de Marapendi é considerado um dos mais bem administrados. Fazemos uso preservando. Adotamos e estamos fazendo um bom trabalho. Em maio de 2018, teve vistoria da secretaria e fomos elogiados pelo trabalho que está sendo realizado. Cuidamos de uma área enorme no entorno”, finaliza a gerente.

Ponto para a associação, que vem dando exemplo em respeito aos animais e preservação da natureza. Façamos cada um de nós nossa parte também. Que cada pequena visita à natureza seja respeitosa. Que cada resíduo seja levado à lixeira mais próxima, especialmente nas praias e cachoeiras! Que tenhamos um verão maravilhoso!

 

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