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Com quase 100 anos, Leblon faz autocrítica para dar volta por cima

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Quem desembarca na estação do metrô da Antero de Quental e desce para a praia pela Rua General Urquiza, alcançando os condomínios luxuosos da Avenida Delfim Moreira, onde um apartamento chega a custar R$ 30 milhões, não imagina que, antes de ganhar a fama de metro quadrado mais caro do país, esse pedaço de terra, demarcado por dois canais, foi um areal até meados dos anos 1950. Por ali, a partir do século XVI, passaram os índios tamoios. O lugar também abrigou engenhos de cana, fazendas de gado, uma fábrica de pesca de baleia e um quilombo, até ser comprado pela construtora Ipanema, loteado e transformado em bairro em 26 de julho de 1919. Depois de passar por um forte processo de valorização nos últimos 15 anos, o Leblon completa 99 anos, vivendo um novo ciclo: o êxodo. Devido ao alto custo de vida, antigos moradores e muitos comerciantes estão deixando o bairro, enquanto suas ruas e avenidas -a maioria delas com calçadas de pedras portuguesas -sofrem com problemas de conservação. Embora esteja entre os locais mais seguros da cidade, o bairro encontra-se no topo do ranking dos furtos de bicicletas no estado.

FORTALECIMENTO DO BAIRRO

Para não deixar o aniversário passar em branco e com objetivo de reunir a comunidade em defesa de sua qualidade de vida, moradores, comerciantes e instituições do bairro decidiram juntar esforços. No último dia 26, uma missa pelo aniversário na Igreja de Santa Mônica deu a largada para um ano de ações que vão preparar o bairro para o seu centenário.

– A ideia é reunir moradores e instituições, por meio de ações sociais que buscam o fortalecimento do bairro, trazendo conscientização e maior participação de todos. Vamos deixar o Leblon pronto para comemorar em paz o seu centenário – afirmou João Fontes, um dos organizadores do projeto e membro da associação de moradores. Entre os principais parceiros na empreitada, estão o Colégio Santo Agostinho e a Igreja Santa Mônica. – O colégio está no Leblon há pelo menos 3/4 da existência do bairro. Queremos que o colégio esteja inserido na vida do lugar, participando ativamente de seu dia a dia – explicou o coordenador de área do Santo Agostinho, Marco Antônio Martins Junior.

E a programação já começa em 15 de setembro, Dia Internacional da Limpeza de Praia, quando será feito um mutirão de coleta de microlixo. Em 21 de outubro, acontecerá um fórum de arte, ciência e cultura no auditório do Santo Agostinho. Também estão previstos uma campanha de doação de sangue, uma aula pública sobre a história do bairro e uma campanha de doações para o Natal. Um show também está sendo planejado. Os organizadores estão em busca de parceiros e fotos que contem a história do bairro para escrever um livro sobre o centenário. E depoimentos não faltarão.

– Quando inauguramos, em 13 de dezembro de 1954, a Rua Dias Ferreira ainda era um areal – contou Domingos Ferreira Campos, dono de um dos estabelecimentos remanescentes da época, a Casa Campos, de louças e ferragens. Segundo ele, a rua que hoje abriga um centro gastronômico e lojas charmosas tinha, na época, aviário, açougue, tinturaria, quitandas e o restaurante Galeto do Leblon, que ainda está lá. Uma das moradoras e comerciantes mais antigas, a portuguesa Maria Alice dos Santos Costa, de 93 anos, ainda se lembra da época em que viveu na Rua Dom Pedrito, hoje Almirante Guilhem, e do terrível dia em que a favela da Praia do Pinto pegou fogo:

– Foi muito triste. Eram casas de madeira e até de papelão. Então, o fogo logo tomou tudo. Famílias desciam carregando geladeiras, roupas, o que conseguiam salvar. Muitos ficaram na varanda da minha casa. Quase tão antiga quanto o bairro é a Paróquia Santa Mônica.

– Vivemos um momento de êxodo. Os moradores mais velhos estão morrendo, e os filhos, sem conseguir manter o mesmo padrão de vida, estão indo para bairros como a Barra. Outros, preocupados com a insegurança política do país, estão indo para o exterior – explicou o pároco Roan Ataíde.

Para o antropólogo Pedro Paulo Thiago de Mello, o Leblon passou, nos últimos 15 anos, por um processo de gentrificação:

– Agora, o bairro enfrenta dificuldades para manter o mesmo padrão de vida, muito em função da bolha imobiliária que veio com os grandes eventos.

Fonte: O Globo

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