O novo pacote de estímulos à construção de moradias, lançado nesta semana pelo presidente Michel Temer, poderá servir como impulso – um dos muitos necessários – à retomada do crescimento, depois de mais de dois anos de recessão. Ao anunciar a ampliação de financiamentos ao programa Minha Casa, Minha Vida, o presidente mencionou a criação de empregos como um dos benefícios prováveis dessa iniciativa. Esse objetivo, sempre importante numa economia em desenvolvimento, se torna dramaticamente relevante quando se estimam em 12,3 milhões os desempregados. A preocupação com a abertura de vagas, afirmada também pelo ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, é mais que justificável. Mas a maior oferta de postos de trabalho será apenas um dos efeitos, certamente um dos mais benéficos, da reativação de vários setores produtivos. O sucesso dependerá, naturalmente, de vários fatores, a começar pela execução competente e ágil das medidas necessárias à implantação dos incentivos.
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As inovações prometidas são basicamente simples. A renda máxima do beneficiário passará de R$ 6,5 mil para R$ 9 mil mensais. Os valores dos imóveis financiáveis também subirão, com limites diferentes de acordo com a localização. Sem abandonar os grupos de renda mais baixa, alvos iniciais do programa lançado em 2007, o governo dará mais atenção a uma camada de renda média. Está prevista a contratação de 610 mil moradias neste ano. A maior parte desse total – 400 mil unidades – será destinada às faixas 2 e 3, com renda mensal entre R$ 4 mil e R$ 9 mil. Se o foco nessas famílias apressar a dinamização do programa, a inovação estará mais amplamente justificada por seu efeito estratégico.
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A construção civil é especialmente importante para o crescimento econômico, por suas conexões com os demais setores da produção. A construção habitacional depende de um vasto conjunto de insumos, produtos de aço, cimento, cerâmica, vidro, louça, alumínio, cobre, plásticos e madeira. Envolve, além disso, o uso de equipamentos mecânicos. Concluída a obra, o uso da moradia depende de móveis, eletrodomésticos e diversos artigos têxteis. Toda essa teia de produção foi severamente afetada pelo desemprego e pelo enfraquecimento das vendas imobiliárias e da construção civil.
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As contas nacionais do terceiro trimestre, as últimas disponíveis, mostram os efeitos setoriais da recessão. No período de julho a setembro, a produção da indústria geral foi 2,9% menor que a de igual período de 2015. No caso da construção, o recuo chegou a 4,9%, resultado tanto da crise das grandes obras como do arrefecimento da produção habitacional. No acumulado de 2016 até setembro, a atividade da construção foi 4,4% menor que nos meses correspondentes de 2015. Nessa comparação, o desempenho da indústria de transformação foi bem pior, com retrocesso de 6,9%. Mas é preciso levar em conta os vínculos entre a construção e a indústria de transformação, para ter uma ideia mais clara do desastre.
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Embora as contas do trimestre final só devam estar fechadas no próximo trimestre, um primeiro balanço anual da indústria já foi preparado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo esse balanço, em 2016 a indústria geral produziu 6,6% menos que no ano anterior. O recuo da indústria de bens de capital – máquinas e equipamentos – chegou a 11,1%. O subsetor de bens de capital para construção encolheu, no entanto, 16,6%, em mais uma confirmação do desastre ocorrido em todos os tipos de obras.
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A indústria de bens intermediários também foi muito mal, com uma produção 6,3% inferior à de 2015. O pior desempenho foi o dos fornecedores de insumos para construção, com recuo de 11,8% durante o ano.
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Esses números devem dar uma ideia dos benefícios possíveis de um impulso à construção. O efeito se espalhará por outros segmentos, favorecendo a produção e a oferta de vagas. Esse impulso será multiplicado, porém, se o governo movimentar o setor de infraestrutura. Mas a tarefa, nesse caso, deve ser mais complicada.
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Fonte – O Estado de S. Paulo
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