A entrevistada desta edição da revista Condomínio etc. é Paola Ferreira de Siqueira. Ela tem 42 anos e é síndica profissional desde 2006. A profissão não foi exatamente planejada, mas certamente foi o melhor caminho.
Paola morava no Rio de Janeiro e trabalhava em uma administradora na área de locação. Decidiu ir morar em Niterói, sair do emprego e terminar a faculdade de educação física. No último período, quando ela, inclusive, já dava aulas, sofreu um acidente e ficou três meses de cama. Paola conta que não sabia nem se andaria de novo. Ela continuou firme até que recuperou os movimentos. Nesse momento, a empresa do Rio em que ela trabalhava abriu uma filial em Niterói e a chamou para integrar a equipe na área de condomínio.
Ali começou o novo caminho de Paola, no qual ela reconhece que aprendeu muito. Num determinado momento, ela resolveu sair e alçar voo solo. Era a vida escrevendo certo por linhas tortas.
Paola é libriana e, como tal, dá seu melhor como líder, procura sempre ser justa e ouvir a todos. “Aprendi a ouvir mais do que falar.” A síndica é diplomática, justa e aprecia a harmonia. Outra característica dela é a persistência. Quase teimosia, segundo ela. Quando ela decide fazer acontecer, vai até o fim. Sorte de seus clientes, que estão superbem amparados!
Vamos saber um pouco mais sobre Paola Ferreira de Siqueira.
Condomínio etc.: Você acha que as mulheres ainda sofrem algum tipo de preconceito nesta área?
Paola Ferreira de Siqueira: Sim, mas bem menos que anos atrás. Estamos conseguindo nosso espaço com respeito e profissionalismo.
Cetc.: Quantos condomínios você atende hoje?
PFS: Dezessete condomínios.
Cetc.: Enfrentou muitas dificuldades?
PFS: Sim. Ainda enfrento e imagino continuar enfrentando. Lidar com pessoas é um aprendizado diário, não só com o outro, mas com você mesmo.
Cetc.: Fez algum curso de especialização?
PFS: Sim, em 2020, fiz a prova de proficiência reconhecida pela Fundação Vanzolini, aplicada pela Gabor/SP, que é a Certificação Síndico 5 Estrelas, da qual tenho muito orgulho. Fui recertificada agora, em 2022, que vale até 2024, e sou, por enquanto, a única mulher do estado do Rio de Janeiro e de Niterói, cidade em que resido, que tem essa acreditação. Além dessa certificação, fiz os cursos de gestor de propriedade urbana, pós-graduação em gestão condominial e direito condominial, entre outros. A atualização é constante. Sou ainda do corpo docente da Aprimora Cursos, voltada para a área condominial.
Cetc.: Você dispensaria o uso de uma administradora? Qual a importância delas em uma boa gestão?
PFS: Na verdade, precisamos nos atentar ao mercado. Há condomínios, hoje, com poucas unidades e sem funcionários orgânicos que podem vir a ter uma autogestão. No entanto, os condomínios maiores não têm como fazer essa gestão. Eles precisam de uma administradora parceira para que o trabalho se desenvolva de maneira a valorizar o condomínio e a gestão interna.
Cetc.: Dá para agradar a todos os moradores? Como você lida com as diferenças?
PFS: Nem Jesus Cristo conseguiu agradar a todos, imagina nós, síndicas. Aprendi que a melhor forma de lidar com as diferenças é sempre se perguntar: e se fosse comigo? Empatia não é apenas se colocar no lugar do outro, mas também sentir como ele. E é importante também estar sempre respaldado nos regulamentos.
Cetc.: Alguma curiosidade sobre o assunto que queira compartilhar?
PFS: Quando um síndico tem um ou três condomínios, acham que ele tem poucos e, portanto, não tem experiência. Por outro lado, quando tem 10 ou 15, acham que tem muitos… aí se perguntam se ele terá tempo para administrar bem. Sempre terá uma questão a ser levantada…
Cetc.: Algum comentário sobre como é ser síndica nos dias atuais?
PFS: Ser síndica no pós-pandemia é, cada dia, se atentar para a inteligência emocional. Temos que ter ciência de que podemos errar ou acertar, mas temos que saber lidar com as situações na medida em que elas se apresentam.
Cetc.: Você teve dois grandes desafios até agora: um em um condomínio residencial e outro, comercial. Fale sobre o que aconteceu no residencial primeiro, por favor.
PFS: No condomínio residencial, que era quase uma minicidade, com 1.048 casas, foi um grande desafio. Iniciei como consultora para analisar as contas de uma possível má gestão. Levantamos muitas dívidas, falta de pagamento de encargos trabalhistas, entre outras questões. Iniciamos, então, a convocação de uma assembleia de destituição; precisávamos de 262 assinaturas, e conseguimos. Fizemos a solicitação ao síndico e à administradora, por 1/4de condôminos, para que convocassem a assembleia, o que não fizeram. Então, depois do prazo, convocamos uma assembleia para o síndico prestar esclarecimentos e, depois, então, votar a destituição. Ele não quis prestar esclarecimentos, então a assembleia votou sua destituição. O síndico não acatou a decisão da assembleia, então tivemos de entrar com busca e apreensão. Fui eleita síndica num mandato-tampão, em que fiz o levantamento de todas as pendências do condomínio, que ultrapassavam R$ 1 milhão. Na Assembleia Geral Ordinária (AGO), um morador assumiu o condomínio, já ciente do que era necessário para realinhar a gestão interna. Depois dessa atuação, fiz mais dois trabalhos como esse, de ajustar o condomínio e então passar a gestão para um síndico orgânico.
Cetc.: Agora fale sobre o desafio do condomínio comercial.
PFS: Cheguei a esse condomínio numa reunião em que o síndico, teoricamente, sairia, mas sabe quando você olha no olho de alguém e percebe que não é isso que ele quer? Então, propus assumir como gestora, trabalhando num modelo que chamo gestão compartilhada, quando o síndico não tem expertise, mas quer entender o assunto. Aprendi muito com esse síndico, foi um ano e meio de muito trabalho, pois, como ele mesmo diz, o condomínio iria fechar as portas, pois nem a conta de água se pagava mais. Fizemos análise financeira, estudamos custos, atendemos a demandas e então arregaçamos as mangas e fomos trabalhar. Implantamos a individualização da água, o que demonstrou vazamentos, então saímos de uma conta de quase R$ 40 mil para uma de R$ 12 mil. Temos três pavilhões e um total de 139 lojas, que pagavam uma cota condominial de R$ 1 mil e passaram para R$ 575, o que trouxe um respiro para os lojistas. Hoje temos placas de energia solar instaladas, plano de saúde para os oito colaboradores, fora a equipe de terceirização. Hoje sou a síndica – recebi, do síndico orgânico, o bastão para continuar o trabalho que foi apresentado com parceria e respeito.
Nós, síndicas, precisamos olhar e acreditar que podemos encarar grandes desafios e vencer ou pelo menos temos que tentar. Quando acertamos, temos um case de sucesso; quando erramos, é uma experiência para aprender e tentar novamente.
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